Acredita-se que as artes marciais ancestrais ao Karate Shotokan tenham chegado a Okinawa há muito tempo atrás (não existe nenhum tipo de registro escrito a esse respeito), mas a história pode ser contada assim:
Em meados do século XIV, teve início em Okinawa um forte comércio com as regiões e ilhas vizinhas. Assume-se que este contato com diversas pessoas de fora permitiu a entrade de alguns estilos de luta em Okinawa. O controle da ilha de Okinawa revezava-se entre China e Japão e então, por volta de 1470, sob o domínio japonês, um decreto foi estabelecido na ilha proibindo a todos os habitantes de portarem armas. Em 1609, no uso desse decreto todas as armas encontradas na ilha foram confiscadas pelos japoneses, quando esses tomaram o controle de Okinawa.
Foi graças a esse decreto que iniciou-se o desenvolvimento de um tipo de defesa pessoal entre os nativos da ilha, naquela época, nas três cidades de maior comércio: Tomari, Shuri e Naha. A essa prática era dado o nome de ToTe, nome que ainda possuia raízes na China, e como cada cidade tinha seu próprio estilo, convencionou-se então: Tomari-Te, Shuri-Te e Naha-Te. Assim em os nativos aprendiam e treinavam de maneira secreta.
Dois destes nativos de Okinawa se destacaram nos ensinamentos, Matsumura e Gusukuwa, sendo esses os homens que ensinaram os mestres Azato e Itosu, que viriam a ser os professores de Gichin Funakoshi.
Nascido no distrito de Shuri, na província de Okinawa, em 1868, o mesmo ano da Restauração Meiji, Gichin Funakoshi cresceu e foi educado pelos avós, aprendendo poesia clássica chinesa e seguindo o Taoísmo. Durante toda sua infância e adolescência ele treinou sob o método e a filosofia conhecida por “hito kata san nen”, quer dizer, “um kata em três anos”. Para Funakoshi essa época foi muito boa para sua saúde, pois a disciplina aliada aos exercícios fez com que ele pudesse elevar sua condição física, emocional e mental.
Por não se dar conta de que pudesse fazer desses treinamentos uma profissão, ele se inscreveu e foi aceito como professor de escola primária, em 1889, aos 21 anos aproveitando todo o conhecimento que tivera com seus avós. Era então o primeiro exercício em uma escola que Funakoshi teria, unindo a pedagogia à arte.
Em 1902, durante a visita de Shintaro Ogawa, então inspetor escolar da prefeitura de Kagoshima, à escola onde Funakoshi lecionava em Okinawa, Funakoshi impressionou bastante om uma demonstração da arte marcial devido ao seu status de educador, ficando Ogawa tão entusiasmado que súbito escreveu um relatório ao Ministério da Educação elogiando as virtudes da arte. Foi então que o treinamento de karatê passou a ser oficialmente autorizado nas escolas e junto de seu Mestre Itosu adicionaram a prática dos kata ao ensino de educação física.
Mas a arte ainda não tinha saído, até então daquela pequena província. Foi quando após duas visitas, sendo a primeira com Almirante Rokuro Yashiro e a segunda com o Almirante Dewa que o karate passou a ser comentado e divulgado no Japão. Em 1921, na época o Príncipe herdeiro Hiroito em viagem passou por Okinawa e assistiu uma demonstração de Funakoshi, ficando bem impressionado, convidando-o para fazer uma demonstração, agora em Tóquio, no Japão. Convite que foi prontamente aceito.
Por conta da sua disciplina e treinamento, mais uma vez Funakoshi supreendeu a todos em sua demonstração, recebendo diversos convites para para demonstrar e ensinar a arte na terra mãe do Imperador. Funakoshi não tinha intenção em ficar e sim em retornar para sua terra natal, mas foi convencido por aquele a quem se tornaria um amigo bem próximo: Jigoro Kano, fundador do Judô, presidente do Instituto Kodokan e influente na alta sociedade japonesa.
Foi com Jigoro Kano, que o introduziu às pessoas certas, levou-o às festas certas, caminhou com ele através dos círculos da elite japonesa, que as classes mais altas dos japoneses se convenceram do valor do treinamento do karatê, dando autorização para o ensino acontecer em todo o Japão. Foi com Kano que Funakoshi adicionou a palavra DO, que significa Caminho, ao nome Karate, trazendo assim maior propriedade e integridade à arte marcial perante à sociedade da época.
Na década de 1930, Funakoshi desenvolveu exercícios básicos para prática das técnicas em duplas. Tanto o ataque de cinco passos (Gohon Kumite) como o de um (Ippon Kumite) foram inicialmente usados. Depois, um método de praticar esses ataques e defesas com colegas de um modo um pouco mais irrestrito, (Ju Ippon Kumite), foi adicionado ao treinamento e mais adiante após alguns estudos foram incluídos alguns novos métodos de luta livre (Ju Kumite). Até então, todo karatê treinado em Okinawa era composto basicamente de kata. Isso era tudo. Agora, os alunos poderiam experimentar as técnicas dos kata uns com os outros sem causar danos sérios.
Funakoshi tinha 71 anos quando deu o primeiro passo dentro de um dojô de karatê. Isso aconteceu em 29 de janeiro de 1939, onde um prédio foi feito de doações particulares, na grande maioria por seus alunos, e uma placa foi pendurada sobre a entrada e dizia: “Shotokan”. “Sho” significa pinheiro. “To” significa ondas ou o som que as árvores fazem quando o vento bate nelas. “Kan” significa edificação, salão, escola.
“Shoto” era o pseudônimo que Funakoshi usava para assinar suas caligrafias quando jovem, pois quando ele ia escrevê-las se recolhia em um lugar mais afastado, onde pudesse buscar inspiração, ouvindo apenas o barulho do pinheiros ondulando ao vento. Assim esse foi o nome dado por seus alunos em sua homenagem: Shotokan Karate Dojo.
Gichin Funakoshi, o “Pai do karatê Moderno”, faleceu no dia 26 de abril de 1957. No seu túmulo está gravada sua célebre frase: Karate ni sente nashi. O monumento está localizado no Templo Engakuji na cidade de Kamakura, Japão.